De extremo em extremo

Ao colaborar directamente na organização do Campeonato da Europa de Sub16 Masculinos, tenho tido a oportunidade de assistir a vários jogos e treinos, podendo ver as qualidades e as debilidades de alguns jogadores e equipas europeias. Estando a acompanhar mais atentamente a equipa portuguesa e as suas adversárias nesta primeira fase, há dois jogadores da equipa da Bulgária que me têm chamado especial atenção: Pavlin Ivanov e Tencho Tenchev.

Pavlin Ivanov 02Pavlin Ivanov é pura classe e está num patamar diferente da grande maioria de colegas e adversários. Com 16 anos de idade já joga em Itália, na equipa do Benetton Treviso e em campo demonstra uma maturidade  pouco vista nesta Divisão B de Sub16. Com 195 cm de altura corre o campo com uma elegância notável: tem o corpo e o atleticismo de um extremo, a inteligência e visão de jogo de um base, sabe jogar de costas para o cesto, tem um bom lançamento a sair do drible, não tem qualquer problema em driblar com direita ou esquerda mesmo que esteja a ser pressionado pelo melhor defensor da equipa adversária, e sempre com uma calma impressionante.

Mas o movimento que mais gosto de o ver fazer é quando em penetração para o cesto, normalmente com a mão esquerda, percebe que o defesa antecipou o seu movimento, faz um drible de hesitação, temporiza para ler como reage a defesa, e quando o defesa levanta um bocadinho a sua posição, Ivanov ataca de imediato o cesto, acabando com lançamentos perto do cesto. Na primeira fase da competição teve as médias de 21 pontos, 6 ressaltos e 3.3 assistências por jogo! É o líder da equipa, e tem sido elogiado por atletas adversários, e todos os treinadores tentam minimizar os danos que Ivanov provoca nas suas equipas! Neste Europeu costuma apresentar-se algo relaxado em campo – por nunca antes o ter visto jogar, não sei se isso será pela oposição que tem tido, ou se simplesmente é a sua postura e a sua maneira de jogar basquetebol.

Tencho Tenchev é um extremo de 203 cm, com uma envergadura impressionante e que, curiosamente, também não mora na Bulgária. Ao contrário do seu compatriota Pavlin Ivanov, Tencho Tenchev não joga num dos países mais evoluídos no basquetebol. Vive e joga na Dinamarca, e foi um verdadeiro achado para o basquetebol da Bulgária que até este ano não conheciam o jogador. Joga preferencialmente com a mão esquerda, e é com essa mão que faz todos os seus lançamentos de média e longa distância, mas quando joga perto do cesto lança maioritariamente com a sua mão direita. Não tem um drible tão evoluído como Ivanov, mas também não sente muitos problemas em driblar, sendo que por vezes o vemos a ajudar os seus bases na transição da bola para o ataque sempre que estes se encontram pressionados pela defesa contrária. Dada a sua elevada estatura e seus longos braços, Tenchev consegue, pelo menos a este nível, participar qualitativamente no ressalto – na primeira fase da competição teve a média de 8.5 ressaltos por jogo. O seu lançamento exterior tem sido algo irregular e a técnica de lançamento pode ser melhorada, mas nesta primeira fase leva a média de 17.5 pontos por jogo. Sabe movimentar-se sem bola, e várias são as vezes em que sabendo onde tem de se posicionar e o que fazer quando não tem a bola na mão, consegue criar linhas de passe para os seus colegas que o assistem para lançamentos fáceis. Parece-me ser um jogador com grande potencial para que no futuro seja um bom extremo do basquetebol europeu.

A Bulgária tem nesta selecção dois valiosos extremos que poderão ter algum impacto no futuro do basquetebol deste país, e até mesmo no basquetebol europeu. Talvez daqui a uns anos comecem a ouvir falar em Pavlin Ivanov e Tencho Tenchev. Entretanto, viajem até São João da Madeira e apreciem a qualidade desta dupla búlgara. 

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